Tem coisas que eu gosto tanto, mas tanto com todas as minhas forças, que tenho até medo. Tipo quando a gente curte uma música, gosta tanto dela, que ao mesmo tempo em que quer ouvir no repeat, fica com receio de enjoar rápido. Entende esse encruzilhada?Onde eu quero chegar é justamente nesse frenesi desenfreado sobre a cozinha japonesa.
É uma pena, porque isso tem um impacto crucial não só no mercado, como também nos nossos hábitos alimentares. Ao mesmo tempo em que vêm para o bem (leia-se: maior número de opções de japfood e briga por preços mais justos), também tem uma onda negativa (leia-se: “vamos comer um sushi” is the new black).Infelizmente não temos uma cultura gastronômica japonesa como São Paulo. Juro que falo isso com muita dor no coração. E nem me refiro a points como Kinoshita, Nagayama, Jum Sakamoto e Jam. To falando dos casebres da “Liba” (aka Liberdade).
O nosso amigo Marcelo Katsuki tem faro pra essas coisas. Como o sobrenome já acusa, o cara tem olhinhos puxados e se amarra num Udon.Trocando em miúdos, to querendo dizer é que atualmente temos muitos restaurantes japoneses (em Sampa, até mais do que pizzaria), mas todos eles praticamente iguais. Como se comida japonesa se resumisse em Sushi e Sashimi. Olha bem pro tamanho do país e me diz se essa conclusão tem lógica. É como um japonês pegar um mapa, olhar pro Brasil e dizer que vem pra cá comer Feijoada, porque é o prato típico daqui.Em Porto Alegre, infelizmente não temos a honra de ver tantos japoneses assim na rua. E isso significa que não temos, por consequencia, tantos restaurantes japoneses como gostaríamos.
Mas dentre os poucos daqui, diria que destacam-se com uma certa distância dos demais, o Daimu e o Sakura.Talvez porque eles sejam comandados por japoneses de verdade e que sabem como o Japão tem coisas para oferecer que não somente califórnias, makizushis e salmão grelhado.Ainda mais depois que a Alexandra, a Mrs. Destemperadinha andou pelo Sakura com a filhota. Percebi que talvez tivesse chegado a hora de voltar lá e ver se a gente sente realmente diferença entre o menu do A e do B.O time da noite era composto 75% por Caxienses. Fui a ovelha negra da noite.
Ângelo, Pri, Rê (é lógico!) e eu. Apesar de estarmos tentados a sentar na rua perto do laguinho, fomos vencidos pelo frio Andino que fazia. Pelo menos descolamos uma mesinha perto do lago.Meio que não admito ir a um japa e não comer shimeji na manteiga. Ainda mais se vier shimeji na manteiga cobrindo uma bela peça de linguado grelhado. Ah muleke!
O Ângelo, por sua vez, não admite ir a qualquer restauranante no mundo (seja ele churrascaria, fast-food, francês ou sorveteria) e não pedir carpaccio. Deve ter sofrido tanto durante sua pobre infância, tadinho. Sabe como é filho de gente menos favorecida, que nunca teve oportunidade de comer comida com nome “estrangeiro”. Daí se atirou nesse carpaccio de salmão.Outra coisa que não admito é ir ao Sakura e não dar uns beijos num atum selado com crosta de gergelim torrado e tarê. Cara, isso é obra Divina. Tipo, a vida das pessoas se divide em antes do atum selado com crosta de gergelim e tarê, e depois do atum selado com crosta de gergelim torrado e tarê. Uma coisa meio AA/DA.Tudo, logicamente, regado a muito Sake. Nada de sakerinha de morango.
Isso é so last year. Sakerinha de morango é um dos maiores representantes do je suis demodé junto com o petit gateau e com o coquetel de camarão.O grand finale da noite ficou por conta do “Titanic”, carinhoso apelido do nosso barquinho que navegou até nossa mesa trazendo um belíssimo bem-bolado. Tudo muito bom, tudo muito bem. Pena que não durou nem 10 minutos. Não movidos por qualquer tipo de desespero, até porque fomos muito bem munidos de entradinhas. Mas sim em função da excelência e do indescrivível sabor e frescor de cada uma dessas peças.Em busca de um sonho na companhia dos anjos mais queridos e simpáticos, fomos todos de chá verde pra rebater tudo isso.O bom do Sakura é que a gente dispõe de um cardápio japonês bem diferenciado (que tem até Sukiyaki, Enguia e Udon), por um preço mais diferenciado ainda.
Isso tudo, em qualquer outro restaurante japonês da cidade, custaria no mínimo 100 reais por pessoa. Aqui custou 75 reais por pessoa. Arigato Gozaimasu, Sakura. És meu pole-position novamente!